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Foi com muito esforço e movidos por grande necessidade que os madeirenses exploraram a cal, na Região. A extracção era feita rudemente, de forma dura, pois não contavam com a ajuda de máquinas e o transporte era todo ele feito às costas, tanto da matéria-prima, depois de retirada dos jazigos, como da água e lenha necessários à cozedura e redução da rocha a pó.
É para conhecer melhor, esta realidade que durante muitos anos fez parte da vida em São Vicente, único sitio da Madeira onde existe calcário, que o proprietário de uma das antigas explorações está a recuperar no Sítio dos Lameiros a Rota da Cal, uma reprodução da actividade que decorreu até meados da década de 70.
A extracção na Madeira da pedra calcária e a sua transformação em cal remontam ao século XVII, altura em que começaram a surgir os primeiros fomos para cozedura. Nesta altura, a cal era medida em moios que equivaliam a 60 alqueires cada. Os cestos carregavam pedras para mais ou menos três alqueires e eram transportados pelos homens e mulheres em extensões de várias centenas de metros - no melhor dos casos -, a fim de alimentar o surto de construção que se registou nos dois séculos seguintes, antes de serem introduzidos outros materiais que deixaram para segundo plano o precioso pó branco.
A vida era dura então. Para ganhar o dia, um homem teria de fazer pelo menos 15 transportes de cestos às costas entre a zona da extracção e o forno. As regras não eram as mais correctas, vistas à luz da actualidade, mas era assim que funcionava este negócio.
É de salientar que nos finais do século IXX, início do século XX estiveram a funcionar em simultâneo três fornos. A exploração dos filões de cal continuou até sensivelmente meados da década de setenta, mas nessa altura a extracção já era feita de uma forma completamente diferente e com recurso aos camiões para o transporte da pedra para um novo forno junto à vila de São Vicente.
Ao contrário do que se possa pensar, a extracção da cal era uma actividade sazonal. Durante o Inverno, o tempo não permitia que fossem extrair rocha e cortar madeira na serra. Em São Vicente trabalhavam 10 a 15 pessoas, em cada forno, mais as pessoas que se encarregavam da lenha e que vendiam ao dono do forno em cortes. Mais tarde, quando o abate de lenha foi proibido, o forno de cal passou a ser alimentado com carvão de pedra.
O forno, em estilo de cone invertido, levava entre um dia e um dia e meio a cozer as pedras, que não deviam ter mais do que o tamanho de uma mão fechada, para serem colocadas no seu interior. Depois desse tempo, eram retirada com umas pás, deitadas no chão e adicionada água, que provocava uma reacção e reduzia a rocha a pó.
Para pintar as paredes, a pedra de melhor qualidade era guardada, depois de cozida, num bidão. A água só era adicionada na preparação da "tinta" para derreter, à qual adicionavam também sebo de vaca.
Os tempos áureos do negócio da cal já se foram. Mesmo assim este material, agora importado porque sai mais barato, é ainda utilizado na famosa calçada portuguesa, construção civil e na agricultura. Hoje restam as grutas escavadas, o forno abandonado e a antiga casa. Restam documentos antigos, registos de contas e as histórias, passadas de boca em boca, de quem sentiu na pele a dureza desta vida.
As grutas com vários metros de profundidade testemunham as muitas horas de trabalho na escavação da mesma. Na altura as mãos calejadas eram ajudadas pela pólvora que era já então usada para soltar a rocha dura.
O ribeiro que corre ao longo da propriedade confere um toque relaxante à paisagem verde exuberante e é também testemunho de jazigos que se estendem ao longo do seu leito.
Numa área com cerca de 12 mil metros quadrados serão recuperadas as infra-estruturas, devidamente identificados, o filão de rocha calcária, as plantas e as aves da Laurissilva, tornando o percurso também didáctico. Os palheiros, um curral, a levada e um antigo poço de água farão parte da visita, depois de devidamente recuperados.
As placas identificativas e as descrições esquemáticas vão auxiliar o visitante nesta viagem ao passado. A rota da cal deverá também incluir a recuperação de alguns poios que se encontram votados ao abandono e uma reprodução multimédia com um pouco do historial desta actividade.
A ideia inicial era só recuperar o forno, mas o projecto acabou por contemplar toda a rota, dando assim uma ideia mais clara de todo o processo, num percurso para ser percorrido de 30 a 45 minutos, ou no tempo que o visitante quiser, podendo mesmo parar para um piquenique na zona. Nos terrenos junto à casa da cal já pronta foram colocados uns bancos, para descansar e apreciar a paisagem de toda a Encumeada e Vale de São Vicente, plantadas umas ervas de chá para consumo no bar e flores que depois de apanhadas serão oferecidas aos visitantes. As escolas serão um dos públicos alvo deste espaço.
A pensar também na aprendizagem a rota da cal vai incluir uma secção dedicada aos fósseis encontrados na zona, testemunhas comprovadas cientificamente de que um dia o Sítio dos Lameiros esteve abaixo do nível do mar. Estes fósseis, que estão datados com 5,2 milhões de anos, serão expostos na estrutura principal. Um bar de apoio e uma zona de venda de produtos regionais complementam o projecto, orçado em 550 mil euros, actualmente em concretização e que está previsto abrir ao público na Páscoa de 2006.
Retirado do site: www.svicente.com
Trabalho Elaborado por: Porto 1993 e Bamby
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